Brasília 50 anos - O que devia ser e não foi
Com a pretensão de difundir uma imagem de modernidade nacional, estampada na arquitetura arrojada da futura capital, mas consubstanciada em seu programa de governo (o famoso Plano de Metas - de slogan “50 anos em 5”), Juscelino Kubitschek prometia um salto da economia, num único mandato, meio século à frente na história. Seu projeto político, contudo, era altamente precário. Não bastou uma relação de 30 prioridades espalhadas nas áreas de energia, industrialização, transportes, alimentação e educação, sem que houvesse arrecadação de fundos para seus planos audaciosos.
Ao tempo em que Brasília se desenvolvia, crescia também os empréstimos e financiamentos externos, que eram vultosos e inflacionários. Estima-se que a construção do Distrito Federal, aos moldes dos Estados Unidos, tenha custado ao erário público cerca de 2% a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional ao longo dos quatro anos de obras. Em valores atuais, esse montante representaria um investimento de 6 a 10 bilhões de reais por ano, valor semelhante ao Orçamento anual da cidade do Rio, calculado em 8 bilhões de reais em 2003. Em suma, nossa dívida externa deve, em muito, à construção da nova capital federal, o que fariam os juros atuais também serem menores.
A primeira constituição republicana, datada de 1891, já continha um artigo que prescrevia: "Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14 400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal". Ambição antiga de estadistas brasileiros anteriores, mas que por inúmeros obstáculos de ordem política, econômica ou logística retardaram o projeto. Já na década de 50, após 41 meses de trabalho, mobilização de 65 mil operários e 365 viagens do presidente para acompanhar de perto as obras, que as tinha como sua prioridade de governo, Juscelino, ao centro da Praça dos Três Poderes, finalmente inaugura Brasília naquele dia 21 de abril do ano de 1960.
Atualmente, a cidade possui o segundo maior PIB per capita do Brasil (R$ 40.696,00) entre as capitais, superada apenas por Vitória (R$60.592,00), mas ela que estava planejada para abrigar 500.000 pessoas, agora se estima que sua região metropolitana já contenha praticamente 5 vezes a mais este número, ocasionando uma série de gravames sociais na região circunvizinha, nas chamadas “cidades satélites”.
Em ano de corrida eleitoral, neste cenário constante de acirradas disputas políticas, depositamos o desejo de uma saudável discussão de programas de governo não apenas dos candidatos presidenciáveis, assim como dos candidatos aos demais cargos eletivos, tal como também se espera o discernimento crítico dos eleitores, que irão exercer mais este ato de cidadania que se materializa nas votações.
Agora, o que de bom realmente se realizou nessa cidade? De efetivo, o que temos é que, logo após o dia da inauguração, o primeiro ato do então presidente do Senado, Filinto Müller, foi a aprovação de um recesso de 30 dias, devido à falta de condições de trabalho e de moradia na cidade, que continuava sendo apenas um canteiro de obras erguido por uma população miserável e marginalizada.
2009 - Quando o Pouco se tornou Muito
Por mais que contrariasse o pronunciamento do presidente, a crise chegou ao Brasil sim. Setores da economia amargaram quedas nos lucros, houve demissões e a renda do brasileiro caiu. No entanto, embora o crescimento do PIB deva ficar em torno de zero, a economia nacional retorna aos indicadores anteriores do período da crise, e para 2010 já está previsto crescimento de 5% anual.
O segundo semestre do ano, sobretudo, foi marcadamente em alta. Enquanto o sistema bancário norte-americano despencou, o brasileiro não sentiu os mesmos efeitos. Tanto corrobora o fato é que, ao passo em que o Lehman Brothers ia à falência em 2008, o Itaú e o Unibanco anunciavam sua fusão logo após, formando o maior grupo financeiro do Hemisfério Sul, e os balanços trimestrais, não só bancários, como de outros setores durante 2009, só tenderam ao positivo e a Bovespa registrava marcas históricas de crescimento.
Os velhos conflitos internacionais perduram. A crise da Coreia do Norte, assim como a questão do Irã, permanece em aberto, na qual esses países, além de manterem regimes políticos fechados, persistem em levarem adiante projetos de melhoramento de urânio ou de armas de longo alcance – o que demonstra que, mesmo quando comemoramos os 20 anos da queda do Muro de Berlim, um marco do fim da Guerra Fria, a tensão que envolve as armas nucleares e uma provável corrida belicista ainda nos espreita de perto.
Mas podemos respirar um pouco aliviados, mesmo sem deixar de prestarmos vigilância, pois os mecanismos diplomáticos ainda nos são muito úteis. No golpe militar ocorrido em Honduras, a exemplo, tal como há o intento quanto ao Irã e Coreia, se buscou utilizar medidas conciliatórias entre os envolvidos para melhor se chegar a uma conclusão satisfatória a todos. A América Latina, como observado, já caminha a bons passos, pois mesmo nesses entraves como em Honduras, não foi intencionado pela comunidade internacional uma intervenção militar na área – o que não costuma ser uma medida aprazível.
Num olhar rápido, breves foram minhas considerações, mas já considero o suficiente para comemorar os bons frutos que 2009 rendeu. O ano foi decisivo para os delineamentos que esperamos para 2010. Agora é continuar trabalhando satisfatoriamente.
A fama da imprensa mineira de engolir calada
No episódio, ocorrido no Hotel Fasano, no Rio de Janeiro, para o desconforto das testemunhas, Aécio briga com a atual namorada, distribuindo contra ela estapeios e liberando seu ímpeto de violência.
Se do fato o governador não tem conhecimento de mecanismos que coíbem a violência contra a mulher, já os veículos de imprensa sabem do compromisso de confidencialidade dos casos tumultuosos (no âmbito privado ou público) do governador. Silêncio, não por um ato de abstenção, mas este é realizado tendo a prescrição de um mandamento procedente de um comando ao qual estão eles subordinados.
Perante os desmandos de Aécio, os meios de comunicação mineiros se calam, obedecendo a Assessoria de Imprensa do governo – do incompreensível Palácio da Liberdade, a mesma que tenta desmentir o episódio por ora narrado e que o jornalista Juca Kfouri faz menção em seu blog, afirmando a veracidade do ato de covardia do governador, sendo corroborado por Carlos Azenha, citando a necessidade de a imprensa não se omitir perante os fatos.
Não que esse evento isolado seja a prova contundente da política da desinformação que vem sendo há muito adotada na região, mas já desponta o topo desse longo iceberg de inescrúpulo com transparência pública e desrespeito com o interesse do bem comum.
O interessante e curioso é perceber que logo após a publicação da notícia por Juca Kfouri, a qual a assessoria de Aécio assegura ser totalmente caluniosa e inverídica, em pronunciamento dirigido ao jornalista às 15h18min, eis que desponta no IG a notícia, às 15h21min, de que o casal Aécio Neves e namorada (Letícia Weber) são flagrados recentemente em clima de romance. Uma incrível coincidência que surge para fortalecer a imagem de bom moço do governador mineiro. Enquanto isso, continuam os mineiros adestrados a permanecerem comendo calados.
e que serviram de base para esta postagem.
Lançamento do e-Book: Web 2.0 - Erros e Acertos
Um sonho que se sonha só é só um sonho. Um sonho que se sonha junto é real. Mas um sonho que se faz junto é mais que a realidade, é um projeto sustentável.
Num grande esforço coletivo, diversos bloguistas e twitteiros se unem nessa tarefa de tornar público o conteúdo do referido livro eletrônico. A razão é simples: mais do que pelo elo de amizade, o sentimento de apoiar um conteúdo de relevo se sobressai. Prezamos por uma web mais horizontal, na qual todos podem competir com igualdade e conseguir destaque se valendo do sistema de meritocracia, sem as barreiras da hierarquia dos tradicionais mecanismos de informação.
Somos conduzidos à conclusão que devemos considerar precipuamente a importância e a necesssidade da qualidade do material posto em circulação na rede mundial para alcançarmos um verdadeiro desenvolvimento produtivo. De uma forma leve e precisa, Paulo Siqueira relata sua vivência na elaboração de seu projeto de integração Twitter/SMS, o "digi.to". O autor traz ao conhecimento público essa sua experiência pessoal no intuito de servir de exemplo para que futuras práticas na dinâmica da Web 2.0 possam ser mais eficazes e bem sucedidas.
A maneira que temos hoje de explorar ecossistemas complexos "é testando um montão de coisas, e você torce para que as pessoas que falharem, falhem de maneira informativa para que pelo menos você encontre os crânios nas estacas próximas de onde você estiver indo."
Descrito como um grande aventureiro, conforme narra nosso colega Gabriel no Irradiando Luz, Paulo Siqueira manteve o bom espírito e nos ensina que entusiasmo e idealização de um sonho de estar aliados a força de vontade e determinação para realizarmos um bom Plano de Negócios, como bem observa a colega Dolphin no também excelente Nerd Somos Nozes. Confira você também essa parceria com o blog Mobilidade e adquira o e-Book.
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Estão participando do lançamento do eBook Web 2.0 - Erros e Acertos - Um guia prático para o seu projeto, os seguintes blogs:
Irradiando Luz, Dossiê Alex Primo, Não Zero, UsuárioCompulsivo, Nerds Somos Nozes, Zerotrack, Blog de Seo e Webstandards, iceBreaker, Luz de Luma, yes party!, Vivo Verde, Cova do Urso, Grãos de Areia pelo Infinito, atblog, DE Consulting, Nota Zer0!, TecnoCT, Leitura na Tela, Antes da HORA, Tecnologias digitais e Educação, Tecnologias, Educação e algo mais…, Virtual Z1, Uhu, galera!…, Blog do Carlos Fran, Blog do Locoselli, Blog de Renato Salles, Lua internauta, Mundo Desbravador, Fonte de Alegria, Lar da Veterinária, Origine Italiana, Arthur Araujo, Luana Giampietro, Blog do Zemarcos, blog EJM, Notícia e blog, Mídia Boom, [In]Commun Séries, Blogando com Vc!, Grupo NGJ, Voxtopia, pribi.com.br, Blog da Mari Rocha, Unidade Avançada, Blog Windows Brasil, Preparando a Redação, Usuário Nokia, Léo.Lopes – Portfólio, Blog do Netmind, Sylvester Stallone Brasil, Códigos Blog, Brasil Critical, Security Total, Ricardo Campos: Reflexione, Actividade, Açaí Grosso, Muleque Doido, Ernandes Rodrigues, cajuinas, Educação a Distância, WebGringos, Fruição e Escrita, Informática Desvendada, Midlife, Popzei!, Berdades da Boca P’ra Fora, My Percepções, Liso-Sapiens, Blogger Pessoal, Neurônio 2.0, Vondeep, The worst kind of thief, Thiago Antonio, Marcus Monteiro, Franquia Empresa, Blog Mídias Sociais, Abre Aspas, Chronus Blog, Sedentarismo Intelectual, PopNutri.
O desejo de probidade depositado em Toffoli
“Prometo bem e fielmente cumprir os deveres de ministro do Supremo Tribunal Federal, em conformidade com a Constituição Federal e as leis da República”. Foi seguindo os termos do presente juramento que Toffoli foi empossado como ministro da Suprema Corte, após ser conduzido ao Plenário pelo decano da Casa, o ministro Celso de Mello, assim como pela ministra Cármen Lúcia, a até então mais recente investida no cargo.
Toffoli assume a cadeira deixada vaga após o falecimento do ministro Carlos Alberto Menezes Direito (em setembro deste ano), tendo sido feita a indicação de seu nome pelo presidente Lula, em cumprimento de atribuição inerente do cargo. Como parte essencial do procedimento, teve de participar da sabatina realizada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, que colocaria em prova seu saber jurídico, para então sua nomeação ser votada por todos os senadores em plenário. Na CCJ, Toffoli foi aprovado por 20 votos a 3, e no Pleno do Senado, obteve 58 votos a favor, 9 contra e 3 abstenções. Ambos os pleitos, de forma espantosa, se realizaram no mesmo dia (30 de setembro), o que é incomum pela celeridade que obteve. De fato, a base governista se movimentou intensamente para garantir a aprovação com essa boa folga.
Não ficou ele, contudo, alheio a críticas. Uma das muitas feitas à sua indicação reside no fato de o novo ministro ter estreita ligação com o PT. Como exemplos, o Portal UOL narra algumas atividades por ele conduzidas: o exercício, entre os anos de 1995 a 2000, do posto de assessor parlamentar da liderança do partido na Câmara dos Deputados; a chefia de gabinete da Secretaria de Implementação das Subprefeituras do município de São Paulo, durante o mandato de Marta Suplicy; a prestação de serviços ao deputado federal Arlindo Chinaglia, assim como ao então ministro da Casa Civil, José Dirceu, na subchefia de Assuntos Jurídicos (entre 2003 e 2005); e, principalmente, ter advogado nas campanhas de Lula à Presidência nos anos de 1998, 2002 e 2006.
Caminham deste modo as acusações, no sentido de depreciarem a escolha presidencial, ao afirmarem que o ministro permaneceria com um forte vínculo com o partido. Questiona-se, por tal maneira, se Lula não estaria conduzindo à cúpula do Judiciário uma pessoa que represente seus próprios interesses, sendo assim suspeito para o cargo que ocupa, o que o tornaria subjugado ao Executivo. O imbróglio que fica é: estaria o presidente usando da indicação como meio de "aparelhamento partidário" da Corte?
Nada disso, no entanto, causa espanto, pois todos nós sabemos, por mais que cause desprazer, que o Supremo é um tribunal um tanto que político. Tal como Toffoli foi Advogado-Geral da União (AGU) de Lula, Gilmar Ferreira Mendes assim também era quando do governo de Fernando Henrique Cardoso. Todavia, não são ainda estes os argumentos capazes de causar demérito ao órgão.
Ao indicar um nome para a composição do STF, o presidente realiza uma competência típica da sua função, e é mais que normal – quiçá desejável, devido à importância da função e as expectativas que ela produz – que as nomeações se deem para alguém que seja de sua íntima confiança. Não obstante, os ministros, uma vez lotados no cargo, costumam agir com um substancial grau de independência perante aqueles que os indicaram.
O receio dos setores da oposição está no elevado número de ministros que Lula já indicou para o Tribunal. Já foram nomeados um membro do Ministério Público, o então Procurador da República, Joaquim Barbosa; uma Procuradora do Estado, Cármen Lúcia; um advogado e acadêmico, Carlos Ayres Britto; assim como um renomado e famoso jurista, então professor da USP, Eros Grau; um juiz, como o falecido Menezes Direito e um Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Cezar Peluso – foram 8 indicações ao todo, sendo que uma delas foi a do ministro Menezes Direito, cuja vaga é ocupada agora por Toffoli; e em 2010, o ministro Eros Grau, também nomeado por Lula, terá sua aposentadoria compulsória decretada (visto o fato de completar 70 anos, idade que ocasiona a aposentadoria), liberando outra vaga. Por mais que ocorram essas mudanças, Lula ainda terá 7 dos 11 ministros da Corte nomeados em sua gestão.
Fatos esses supramencionados que não devem, ao menos a priori, afetar a isonomia do Tribunal. Justamente para proteger a atividade jurisdicional é que algumas prerrogativas atribuídas ao Poder Judiciário, em todos os níveis, são formuladas (como a irredutibilidade de subsídios, a inamovibilidade e a vitaliciedade). Visam, assim, à garantia da imparcialidade dos seus membros, permitindo a sua livre atuação, independentemente dos arranjos governamentais. O que não deve ser confundido com neutralidade, pois temos que concordar que não existe um só indivíduo que não tenha suas próprias convicções ideológicas e interesses pessoais. Não é por esta razão que darei descrédito a Toffoli, mas ao contrário, uma vez assumido o posto, desejo o seu real sucesso.
Justamente por crer no grande potencial do Colendo Tribunal de não só dizer o direito no caso concreto, mas também de ditar o pensamento científico-jurídico que influenciará os demais magistrados nacionais, é que deposito no seu mais novo ministro meu sentimento de que possa ele tomar consciência de sua não-neutralidade, não se permitindo eivar em seus julgamentos de suas emoções, para então assim ser imparcial e poder cumprir seu juramento com alento – como é de se esperar de todo e qualquer represente do Judiciário. Só assim poderemos perseguir no encalço o nobre ideal da Justiça.
Pare de errar na Web 2.0 - Aguarde novo e-Book
Com o objetivo de discorrer sobre alguns procedimentos e cuidados a serem tomados durante todas as etapas de um projeto, o autor Paulo Siqueira pretende não a organização de um manual em sua abordagem típica, mas que seu e-Book seja a reunião de reflexões adquiridas ao longo de sua carreira em Tecnologia da Informação (TI).
O conteúdo da obra está todo licenciado em Creative Common, e assim está esquematizado:
Parte 1: O Projeto – O surgimento e a concepção da idéia. Do “insight” até a execução, passando pelo (não) planejamento.
Parte 2: Programação – o aspecto técnico e formal do projeto, com algumas referências à codificação, banco de dados, uso de APIs, DNS, etc.
Parte 3: Propaganda Online – relato das experiências do autor na área de propaganda online e como (não) funcionaram.
Parte 4: Erros e acertos – As dificuldades e desafios do projeto. Um manual para os novos aventureiros de plantão que se lançam no mundo da web.
Parte 5: O Futuro – As possibilidades para dar continuidade ao projeto.
De proveito para não só para blogueiros ou jornalistas de tecnologia, mas também, a exemplo, para programadores, analistas, desenvolvedores ou gerentes de projeto, o presente e-Book, assim, tem a meta de contribuir e compartilhar informações que possam ser úteis a todos aqueles que tenham interesse em se arriscarem nos domínios da Web.
O lançamento do material ocorrerá no dia 30 outubro de 2009, e contará com a divulgação via Twitter, assim como em diversos blogs parceiros da iniciativa. Tal como o Grãos de Areia já participou do lançamento do e-Book Blogger Seguro, agora também colaboramos com o atual livro eletrônico. Basta conferir neste endereço, ou nos demais participantes, na data marcada, o link que será disponibilizado para download da obra.
O autor, Paulo Siqueira, tem mestrado em Engenharia de Software pelo IPT. É professor universitário e tem de 27 anos de experiência em TI, área em que trabalha como gerente, para a UNICEF, no Paquistão. Atuou para Seven Networks International, UN-ICTY, Banco Mundial, IFES-USAID, UNDP-PAPP, UNV-PNUD e ICSUNIDO, e Banespa-Santander, em diferentes lugares do mundo.
O prefácio de é Gilson Schwartz. Sociólogo, jornalista e professor de economia, é coordenador do grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento, da USP.
A capa é de Orlando Pedroso. Ilustrador e artista gráfico, é colaborador da Folha de São Paulo, revistas da imprensa e livros infanto-juvenis.
Ecologia, apenas uma gravura na parede
A relação das sociedades em geral com o ecossistema, como percebido no decorrer da história, sempre foi muito íntima e frágil, como nos revela o exemplo da cultura romana, que possuía verdadeiro fascínio pelo ambiente natural. Pioneiros no trato com plantas e animais, os romanos chegaram a se dedicar com zelo na criação tanto de animais domésticos quanto de selvagens. Por muitas das vezes, os fins eram apenas por questões de ornamentação. Manter animais exóticos no lar era algo muito bem visto pela comunidade. Tanto é assim que se deve a eles a invenção da piscina, que como o próprio nome já pode nos revelar, destinava-se aos peixes.
O ápice, contudo, era dedicado no cultivo de áreas verdes. Classes mais abastadas de Roma e de suas principais províncias, de modo muito peculiar, chegavam a se permitirem em ostentar verdadeiros jardins em seus lares, tanto os interiores quanto os externos. De fato, construíam suas residências de tal modo que os cômodos ficassem dispostos a circundarem o jardim particular, que era visto como a parte central e de destaque da casa. A importância era tamanha que, inclusive, muitos dos cômodos ganhavam pinturas com temas inspirados nessas representações para prolongar e ampliar sua beleza.
Como percebemos, a beleza clássica sempre esteve ligada a essa proximidade com o meio ambiente. Mas tudo não passava de uma questão estética e superficial. Ao mesmo tempo em que nutriam o desejo de contato com a fauna e flora, os romanos levavam a efeito uma prática predatória severa. Podemos citar a larga utilização de muitos animais, como leopardos, girafas e elefantes, em diversos espetáculos nas arenas de luta, o que ocasionou o extermínio de algumas espécies em determinadas regiões.
A natureza era vista como mero adereço na decoração ou no lazer. Afirmação essa que pouco se modificou com o passar do tempo. A sua única função, vista por muitos, seria a de se submeter à satisfação dos nossos desejos e interesses. Negar hoje que as alterações sofridas no meio ambiente não se devem em nenhum grau pela intervenção humana é o mesmo que considerar que Roma não foi culpada, por exemplo, pela extinção de leões na região do Oriente Médio.
Simplismo é afirmar que aqueles que discutem sobre os graves impactos ambientais apenas difundem um ecoterrorismo apocalíptico, de modo que suas ideias são execráveis. Desincumbir a espécie humana de culpa é convalidar o atual status quo, é consentir que continuemos com os mesmos hábitos de consumo, que não seriam de nenhuma maneira, e em qualquer hipótese, considerados nocivos ou insustentáveis. Por mais que ainda existam algumas dúvidas não explicadas e questões ainda não comprovadas pela ciência sobre as atuais alterações climáticas que estão ocorrendo, provas científicas já nos revelam um número maior de certezas sobre as perigosas consequências do aquecimento global, que por mais que possa ser um desdobramento natural, foi intensificado, ao menos, por nossas próprias práticas de vida.
Penso eu que quando você é uma voz isolada na multidão afirmando algo, talvez esteja você errado. Mas quando outras tantas vozes afirmam em sentido semelhante à sua, é mais provável que seja você o possuidor da razão. Mas tal argumento não é suficiente, as multidões também podem representar um juízo de pequeno valor. Mas se um grupo de cerca de 2 mil renomados cientistas, oriundos de mais de 100 países chegam a um consenso sobre o tema, a confiabilidade aumenta exponencialmente. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (na sigla em inglês, IPCC), o aquecimento global já é uma realidade e os efeitos negativos já são claramente perceptíveis.
Fenômenos meteorológicos incomuns e extremos aumentam de frequência e/ou intensidade. Inundações, enxurradas, vendavais e deslizamentos de encostas se tornam mais um grave problema às populações, como percebido nos exemplos das recentes tempestades no Maranhão e Santa Catarina, assim como na região Amazônica, a qual já passou em 2005, paradoxalmente, a seca mais severa – numa estimativa de 100 anos. Creio eu que não se trata de pura histeria ecológica.
Diante desse evento inexorável, de difícil reparação, o mínimo que devemos adotar são medidas de mitigação do impacto humano para reduzir os riscos sobre os ecossistemas. Desenvolver políticas públicas entre governos, o setor privado e a sociedade civil organizada é uma questão de urgência tendo em vista a necessária adaptação às mudanças. Ou façamos isso enquanto ainda nos resta tempo, ou, quando formos também apenas umas simples pinturas gravadas na parede da história, coloque-me, ao menos, num canto da sala de estar.