Um marco na História, a Revolução Islâmica de 1979 inverteu concepções que a sociedade ocidental forjou a partir do século XVIII, primando pelo retorno de antigos valores. Três décadas que assinalam um endurecimento como estratégia de defesa.
Liderados pelo alto clero, os iranianos derrubaram uma monarquia pró-ocidente e instituíram uma república islâmica de esmagadora maioria xiita. Sua doutrina tem hoje por fundamento a interpretação literal dos livros sagrados – rejeitando valores como igualdade entre os sexos, obrigando mulheres a cobrir o rosto, a defesa do patriarcalismo – que, aos olhos das sociedades mais progressistas, é tido como um retrocesso cultural.
Defendo o direito de autodeterminação dos povos, mantendo a prerrogativa de que todo agrupamento social deve manter laços culturais próprios e constituir um governo soberano, que reja por sí só e seja independente. No entanto, tal direito não elimina a autodeterminação dos indivíduos em sua singularidade.
Acredita-se que esse fenômeno de expansão do fundamentalismo religioso se dê como forma de reação a governos corrompidos. Pois o que se viu no Irã se espalhou por outros países, que vivem hoje também situações semelhantes. O apelo se dá naquelas populações cujo ressentimento pelas privações sofridas leva à disposição de enfrentamento daqueles que estão globalmente incluídos. O que não é de todo errado, uma vez que assim como os EUA nomeia o Irã como alinhado ao ‘eixo do mal’, devendo ser afastado das relações internacionais, as sociedades orientais se sentem marginalizadas do processo de inclusão social em seus respectivos países. O apego à religião é visto então como uma alternativa de resistência.
Só que o erro dos fundamentalistas é confundir os ensinamentos religiosos (A Lei Divina), com a legislação estatal, que deve ser laica, separada das crenças da coletividade. Pregar que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos de forma irrestrita é fazer com que aqueles que não estão em conformidade de pensamento sejam reprimidos dentro do grupo. O governo teocrático iraniano (na qual a autoridade máxima é um chefe religioso) com seu ‘monopólio da verdade’, não enxerga na população a liberdade religiosa, ou mesmo em sentido mais amplo, as garantias fundamentais inerentes a todos os indivíduos.
O entrave é, deste modo, político, não religioso. Com um governo centralizado, avesso à oposição política, a discussão entre a população é abafada, e a prática populista dos líderes se consolida. Sabemos que nem todo muçulmano é um fundamentalista radical, mas a permanência da autoridade islâmica como está no Irã cria a sensação de que pouco irá mudar. Assim, o temor criado pelo terrorismo, esse novo fantasma para o século XXI, assombra os demais povos. Estamos apenas esperando uma oportunidade para o diálogo.
Imagem: The Associated Press
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Acho estranha, Alex, a resposta dos fundamentalistas à convicção de que são marginalizados no contexto internacional. Eles rebatem a "exclusão mundial" promovendo uma espécie de "execração nacional". Não há oposição, tolerância, ou qualquer prática de democracia. Figuras como Ahmadinejad, que tem a língua maior que um tapete persa, pregam o que bem entendem, istauram uma aura de medo no mundo e, pior, contrapõem sua condição de marginalidade estabelecendo o mesmo tipo de condição no âmbito interno. Fazer política assim, com discurso religioso, é fácil. E ineficaz.
Até mais!
Daniel, sempre exite uma elite que utiliza da população como massa de manobra, valendo-se de subterfúgios para alcançar os próprios interesses.
Seria a religião o ópio do povo?
Valeu,
All3X
Alex,
Você já observou que o termo xiita virou sinônimo e radicalismo?
De fato, a religião foi (está sendo) usada como forma de resistência a governos totalitários e corruptos, mas quando tal religião é utilizada de modo fundamentalista o país está mergulhando numa nova forma de totalitarismo.
Um abraço e bom final de semana.
Valdeir
Valdeir, já ficou estigmatizado que xiita é radical, o que não está correto.
Tendemos muitas vezes a fazer generalizações, mas elas acabam por piorar as relações.
Mas sim, estou de acordo que deve haver maior parcialidade e ponderação entre os debates, e não levar apenas o sentido literal.
Valeu,
All3X
- Gostei do Layout...
depois volto pra ler melhor..
é que acho estes assuntos politicos chatissimos...
;)
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