2008: Mudanças de Paradigmas

Um ano em que muito vai ser deixado para ser contado. O ano de 2008 marcou por tocar em questões antes controversas. Uma delas, com certeza, foi o cenário político norte-americano. Já tinha dito aqui que se Barack Hussein Obama fosse eleito o próximo presidente daquela nação, iria enfrentar questões oriundas do mundo moderno, que somente passaram a existir porque anteriormente não foram tratadas da forma que convinha.

As comparações com Martin Luther King Jr. foram imediatas, como aparecem também em outros espaços, que muito bem retratou essa figura esperada de alguém que enfrente esses pontos de frente. E as expectativas são muitas, que particularmente eu endosso.

A crise financeiro-imobiliária é um desses pontos, que levará o restante dos países a adotarem medidas para conter uma possível recessão global nos próximos anos. E essa crise só ocorreu devido à irresponsabilidade de alguns gestores. Somado a essa questão existem outras tantas que farão que os governos enfrentem um enorme grau de responsabilidade para a devida solução. Por tempos se acumulam políticas públicas ineficazes que apenas estendem os problemas, sendo eles passados adiante. O rombo contudo já se mostra atual.

Movidos pelo espírito de “faça alguma coisa”, e pelo modo em que se encontram as situações atuais, se mostrava premente a necessidade de buscar uma alternativa. E os estadunidenses a encontraram na figura de Obama, que resume bem as expectativas não só de seus cidadãos, mas também do restante do mundo. Busca-se agora uma potência líder no quadro internacional que seja mais humanizada, que saiba lidar com questões econômicas, sociais, políticas e ambientais de modo conciliador e justo com todos.

Muito já comentei por aí que não espero a formulação de verdadeiros milagres econômicos ou sociais, apenas não desejo mais a intransigência e truculência dos governos anteriores dos Estados Unidos. E espero que Obama trate dos assuntos necessários da forma mais adequada e racional.

Obama claramente irá defender valores nacionais, como todo líder deve fazer defendendo os interesses de seu próprio país. E existi aquele velho bordão de que o que seria bom para os EE.UU. seria bom para o resto do mundo. Creio que não será simplesmente assim. Quero apenas que o que for trabalhado dentro de sua política nacional possa ser adequado quanto ao resto do mundo, para que agindo internamente, Obama não vá contra valores esperados para todos os demais.

Este texto faz parte do Projeto G8

Leia também Bandeira Intacta para entender mais sobre a questão.

1988: A Constituição que buscou tornar os brasileiros cidadãos

Passados mais de duas décadas do autoritarismo militar, em 1988 se inaugurava uma nova ordem constitucional. A sociedade civil clamava por um sistema democrático que respeitasse valores individuais dos cidadãos e que retirasse do governo todo o poder de comando sobre a vida da população. Queríamos poder decidir ativamente sobre nosso próprio futuro.

Por tanto temer uma retomada das arbitrariedades do antigo regime, a maioria dos constituintes logo entrou em consenso de detalhar ao máximo os direitos que seriam preservados no texto legal. O que resultou em uma longa Carta que chegou a instituir artigos desnecessários.

José Sarney, então presidente do Brasil, dissera em momento anterior à promulgação da Constituição que ela tornaria o Brasil ingovernável. O que a meu ver não é acertada a afirmativa. Devemos lembrar que nosso vigente diploma legal permite, através de instituições por ela criadas ou reformadas, que conflitos político-administrativos fossem solucionados sem rupturas da ordem democrática. Vejamos o exemplo do impeachmet de Collor, que em outros momentos poderia ser resolvido por outras vias. Fatos bem menos relevantes já foram motivos de golpes políticos...

Contudo, muito se critica a nova Constituição por não ter em muitas de suas normas aplicabilidade instantânea. E mesmo declarando preceitos inovadores que valorizassem o ser humano, ainda assim pouco se alterou da realidade fática. Mas o que me parece falho aqui não é o texto legal, mas a atual legislatura. As normas estabelecidas são sim em sua maioria programáticas, declarando direitos que necessitam de regulamentação por leis complementares. Só que nossos legisladores pouco fizeram ou fazem para tanto. Enquanto muito da ordem econômica já foi regulamentada, a ordem social continua em sua maioria inacabada.

Sempre se houve dizer que vivemos um período de crise jurídica, no qual a população não confia no ordenamento vigente ou possui insegurança com ele, sem saber ao certo quais os reais direitos que se pode exigir. Pois digo que se trata na verdade de uma crise moral em que vivemos. Não temos um norte a seguir e não aprendemos a firmar uma vivência democrática que se renova diariamente. Sem saber que valores defender, permitimos que muitos políticos, que antes estavam nos bastidores defendendo a hoje tão odiada ditadura militar, se perpetuem no poder.

A Constituição consagrou grandes avanços para a sociedade brasileira. Mas ainda hoje não temos conhecimento de como manuseá-los. Por mais que existam distorções em sua estrutura, ainda assim, como já ouvi, ela é “a Constituição do nosso povo e do nosso tempo”, sendo o melhor que já pudemos construir.

Este texto faz parte do Projeto G8

1968: A realidade bate em sua porta

Eram os Anos de Chumbo, e o Brasil vivia em intenso sistema de repressão às manifestações sociais. Ainda assim o movimento estudantil conseguiu levar às ruas cem mil pessoas para protestar diante o caos imposto pelo regime. O descontentamento era flagrante, e a população se insurgia desejando mudanças na estrutura com o trato social.

Num momento anterior, me perguntava se depois do ocorrido em 1968 no Brasil, ainda teríamos a mesma consciência daquele instante... Se naquele ano o Brasil possuía 300 mil alunos no ensino superior e conseguia fazer manifestações do porte da passeata dos cem mil, em 2008 temos quase 5 milhões de universitários, mas se esvaeceu os protestos. Contudo a realidade opressora não se alterou.

O movimento estudantil de lá para cá em muito se politizou, busca a plenitude das liberdades democráticas que se almeja para toda a sociedade. Mas em sentido oposto caminham os demais estudantes, que se fecharam em grupo na busca da realização de interesses do seu segmento apenas. Desvinculados do restante dos indivíduos sociais, os universitários visam à sua satisfação profissional num mercado cada vez mais competitivo e excludente.

Mas não foi apenas o movimento estudantil que se diluiu, é a própria sociedade que hoje se cala perante os choques sociais. Assistimos aos imensos desequilíbrios desencadeados pelo modelo que adotamos, mas nada fazemos. Vultosas quantias são desviadas dos cofres públicos, multidões morrem vítimas de desequilíbrios ambientais não previamente solucionados, outros tantos de violência urbana não contida, como tantos outros conflitos que muitos sabem. E o que nos sobra é o silêncio, ou o murmúrio não ouvido.

Se durante o século 20 conhecemos várias formas de opressão pelo poder, como foi o caso brasileiro da ditadura militar implantada na década de 60, ao iniciar do século 21 temos novas formas de opressão, mas desta vez apenas dissimulada. E o que vemos é m distanciamento da população frente a essas questões. Enquanto se agravam mais os conflitos, e maior a inaptidão em solucioná-los, mais os indivíduos se resignam em não se interessar por alterar tal quadro.

A massa dos estudantes do ensino superior não possui nenhum vínculo político atualmente, e não me refiro aqui à filiação partidária, mas à defesa de ideais políticos que estruturam o Estado. E mais tarde serão estes os estudantes que formarão a elite econômica do país, o que se explica a perpetuação do modelo social vigente. A conduta tomada agora repercute pelos anos restantes, pois aquele que não se sensibiliza com a realidade, pouco se importa em defender uma postura de combate frente a esses valores. Passados os anos rebeldes, ninguém mais se rebelou.

Este texto faz parte do Projeto G8

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